"E, logo ao amanhecer, os principais dos sacerdotes, com os anciãos, e os escribas, e todo o Sinédrio, tiveram conselho; e, ligando Jesus, o levaram e entregaram a Pilatos." Marcos 15:1
Pilatos sabia que diante dele estava estava um homem vitimado pela injustiça. Possuía consciência de que a inveja e ódio dos principais sacerdotes o haviam impelido até aquela situação extrema - afinal, qual outro método seria mais eficiente e humilhante para se livrar daquele nazareno tão presunçoso e atrevido?
Diante de tamanho sofrimento sem razão plausível, o governador romano até sentiu certa empatia por aquele acusado, que se portava com tamanha serenidade diante das injúrias descabidas. Havia algo inominável naquele tal "Rei dos Judeus" que o impeliu à aparente ousadia de questionar o destino a ele imposto pela multidão. Pobre sujeito, alvo de tanto ódio e fúria; seu crime fora ter se colocado como uma pedra no caminho de homens poderosos, poderia pensar o governador.
A cena era deprimente, mas o povo já havia dado seu veredicto. Não atender ao pedido daquela multidão significava indispor-se com os principais sacerdotes, que a incitavam contra o
"criminoso". Salvar a vida daquele inocente não valia o preço de cometer um "suicídio político". Afinal, a culpa nem seria sua - a multidão pediu, apenas obedecia a vontade do povo.
Diante desse cenário, Pilatos preferiu agradar a multidão a agir em prol da justiça. Sabendo que o sangue de um justo seria derramado, procurou lavar suas mãos, fugir de qualquer responsabilidade passível de envolvê-lo na situação. Entretanto, o peso daquela morte ainda repousava sobre ele. Sua omissão não representava uma possível alternativa entre o certo e o errado, um ponto neutro entre dois caminhos. Quanto a poder e justiça, sua escolha foi bem clara pelo primeiro. A aparência era sua prioridade.
Em oposição à atitude - ou a falta dela - adotada por Pilatos, encontramos no mesmo capítulo José de Arimatéia, o qual colocou em risco seu cargo de senador e o prestígio que possuía para dar um enterro digno ao seu Senhor. Ele já estava morto, pouco importava o destino dado a seu corpo, muitos pensariam. Porém José, ainda firme na espera pela vinda do reino daquele que acabara de morrer, agiu com verdadeira ousadia, preferindo honrar seu Deus a conquistar honra dada por homens sobre si próprio.
Jesus disse que bem-aventurados são os que sofrem perseguição por causa da justiça (Mt 5:10). Mas pelo visto, não é de hoje que agir justamente está ultrapassado, é inconveniente. Por que lançar mão das regalias que podem ser obtidas com um simples fechar de olhos e calar de lábios? Lutamos com veemência para nos mantermos em nossa zona de conforto. Não queremos rupturas drásticas; o meio termo nos cai bem. É alimentada a ilusão de que o silêncio e a falta de ação podem ser uma opção. Mentira. Há apenas sim ou não. Certo ou errado. Justo ou injusto. Por nós ou contra nós.
Praticar a justiça requer ação, execução. Aparências e boas intenções não bastam. É entender que a perda é ganho e a perseguição é bem-aventurança.
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